Ele, tal como narciso, observava o seu reflexo na colher da sopa enquanto esperava por ela, sentado à mesa num restaurante. Ela aparece.
Ele (sentado): Olá! Há tanto tempo que não te via! Tás muito gira! (sorrisos)
Ela: (com um ar blasé): pois… hummm não compliques. (senta-se, põe os cotovelos em cima da mesa, olha para ele – olhos nos olhos) Quero o divórcio.
Ele (a recuperar do choque, depois de se ter engasgado no copo de água que estava a beber): O QUÊ?
Ela: não dá para continuarmos. Já não falamos um com o outro, não conversamos, não temos nada em comum.
Ele: desculpa? Não falamos? Eu fiz um mega email e postei no facebook só para falar contigo, onde dizia o quanto te amava!
Ela: precisamente. És tu que falas, não é propriamente uma conversa…
Ele: não? E aquela campanha da impressão digital?
Ela: desculpa?
Ele: não me vais dizer que te escapou o cartaz gigante (maior que o do Papa) que eu pus no Marquês de Pombal?? Aquilo esteve lá uma semana! Era uma brutal declaração de amor! Não viste?
Ela: sim, claro que vi, passo no marquês todos os dias, não tinha como não ver… (suspira) não vez que tu dizes que me amas, mas não ages como tal…entendes?
Ele: e o avião?
Ela: que avião?
Ele: o avião que eu mandei passar em frente ao teu escritório todos os dias com um cartaz a dizer ‘EU AMO-TE, SERÁS MINHA PARA O RESTO DAS NOSSAS VIDAS’ não achaste uma declaração bonita?
Ela: Àhhh! Hummm pois… não.
Ele: não o quê? Não viste??? (chocado)
Ela: não. Vi, claro que vi! Passou lá durante 15 dias todos os dias às 15 horas, claro que vi. Mas não, não achei uma declaração bonita…não achei sequer que fosse uma declaração.
Ele: Não? Quer dizer que não ligaste nenhuma a tudo o que eu fiz por ti?
Ela: não, não liguei nenhuma. E, só para que aprendas, não foi por mim, mas por ti. E talvez quando deixares de olhar só para o teu umbigo, consigas ver o mundo que está à tua volta! Fui...