Ai que saudades que eu tenho de vir práqui soltar a língua!!!!
Num destes dias vinha eu no carro com a minha Xizinha, a aproveitar aquele momento a duas, enquanto tentava não sair da minha faixa de condução, ia olhando para trás para falar com ela. Como o tempo anda escasso, aproveitava para lhe proporcionar alguma sabedoria profunda e supostamente útil (achava eu) para o futuro dela como pessoa e sobretudo para o relacionamento dela com os seus pares, sabedoria essa que só mãe sabe que tem que passar mas que filha querida ignora, mãe sente que falha porque não passa a mensagem tal como vê nos filmes, em que o sol brilha, o tempo não passa, nunca se está atrasada, os filhos são mega queridos e compreensíveis e percebem logo tudo à primeira, e a vida corre bem, antes, back to my reality, a minha viagem de carro passa-se a “correr”, pé a fundo no acelerador, entre a escola e casa, onde em 5 minutos tento dedicar-me a dar um sermão (sim é esta a palavra correcta) à Xis sobre como ela deveria agir com as amiguinhas….
Eu (olhava-a pelo espelho retrovisor): Francisquinha, sabes que não deves ser tão arrogante com as tuas amigas…
Ela (ainda não percebeu que era sermão): o que é arrogante?
Eu (cheia de paciência e boas intenções): querida, arrogante é achares-te superior aos outros e por isso achas que podes tratar mal as tuas amigas, não és minimamente humilde, e tens que ter em atenção à forma como dizes as coisas, és arrogante, respondona, pispirreta, achas que tens sempre razão blá blá blá blá blá….and so on….nisto ia olhando pelo espelho para ver se ela estava a tomar atenção e estava, UAU pensei eu, está a ouvir-me, este discurso está a ser produtivo, vou continuar….tens que ter cuidado na forma como falas com as tuas amigas
Ela (interrompe-me): óh mãe, não consegues dizer-me nada de bom???
AI!!! OMG! Estou a ir longe demais, já meti os pés! Esborrachei-lhe a auto-estima, será que é irreversível? Ela, coitada, está despedaçada, pode até ficar traumatizada, e agora? Como faço para dar a volta? Ai! Pensa Pensa Pensa!
Eu (com os olhos focados nela – who cares about driving when your daughter is about to be traumatized forever?): CLARO QUE SIM! Tu és altamente sociável, tens um coração do tamanho do mundo, falas com toda a gente, és super inteligente
Ela (interrompe-me):…sim e sou gira, canto bem, danço bem, sou simpática, tenho jeito para contar histórias, sei pintar-me, faço poemas giros
Éh lá! PÁRA TUDO! E eu a pensar que tinha metido os pés! Caramba! Nunca vi ninguém com tamanha auto-estima! Medo…. é isso, muito Medo!