"Dance like no one is watching, love like you'll never be hurt, sing like no one is listening, and live like it's heaven on earth."- William Purkey
09
Abr 13
publicado por Muito Mais Branco, às 15:06link do post | comentar

É tipo Outono... Sabe bem e não faz mal!


...disse-me uma amiga quando lhe falava há tempos, sobre estar-se apaixonado, e eu acrescentei 'e passa depressa'. E passa mesmo, tudo passa...

A intensidade do sentimento de se estar apaixonado faz-nos bem, faz-nos sentir vivos, mas é algo muito teenager: morrer de paixão, cortar os pulsos, head over heels... o sentimento é tudo e tudo muito (in)felizmente efémero.

 

Admito que a paixão completamente correspondida causa uma enorme felicidade e satisfação ao apaixonado, mas a felicidade que vem duma paixão correspondida é baseada numa estrutura ilusória criada pelo apaixonado e que apenas tem a ver com ele e com mais ninguém. O apaixonado só se vê feliz ao conseguir o objecto da sua paixão, que é ser correspondido. Ser correspondido por alguém que também deseja a paixão e que também cria uma estrutura fantasiosa, com bases frágeis que não correspondem à estrutura ilusória do outro... Naquela fase embriagada da paixão as partes sedadas pelo sentimento confundem as suas estruturas: aparentemente são as mesmas, mas enganam-se porque cada um construiu a sua, com base na SUA cara-metade e não na real cara do outro...

 

A paixão é fogo que arde sem se ver (ou será que era o 'amor')....

 

Só mesmo com a alma a 'arder' é que conseguimos ir assitir a uma palestra sobre a castração química do gafanhoto argentino (*), apresentada em alemão pelo prof. Friedrich Von Stradonitz, com tradução simultânea para sueco, palestra essa de extrema importância para a nossa 'cara-metade' mas brutalmente maçadora para nós, e embora chata, a palestra acaba por se tornar interessante na medida em que nos permite dar asas à nossa fogueira e manter as labaredas acesas durante toda a tediosa conferência, podendo nós, ignorantes no que diz respeito ao gafanhoto, curtir o estado de admiração pela nossa cara metade, que aparenta entender tudo e mais, e cultivar essa loucura que é a paixão...

... até que um dia o fogo passa a incêndio e vira-se contra nós, aquilo que eram lindas e escaldantes labaredas em deliciosos tons de amarelo e laranja, passam a chamas insuportáveis que assam a alma e abafam toda a admiração que julgávamos sentir, e concluímos que afinal o sentimento não era assim tão abrasador, e o que outrora bronzeava a nossa vida e o nosso dia a dia, hoje se torna num acervo preto de madeira chamuscada e nauseabunda, nalguns casos repugnante até.

 

E depois de escaldadas pensamos 'what was I thinking??' como é que foi possível EU (inteligente, esperta, perspicaz, sensata e lucida) achar que gostava daquela gajo (estupido, bronco, ignorante e parvo) como é que euzinha fui apaixonar-me por aquela cavalgadura que não tem nada a ver comigo??

 

Pois... não tem mesmo nada a ver.... a paixão é um sentimento individual. A paixão que sentimos pelo outro, ou por outra, a paixão que sentimos pela suposta 'cara-metade' é precisamente a NOSSA cara metade e não a outra pessoa... alias atrevo-me mesmo a dizer que a outra pessoa ou a 'suposta cara-metade' não interessa nada para a nossa paixão, servindo apenas como objecto para um sentimento individual nosso, muito intimo, o qual está subjacente a NOSSA cara-metade... a nossa alma gémea - BULLSHIT - Se assim fosse, ou seja, se nos apaixonássemos pela nossa VERDADEIRA cara-metade, então teoricamente nós seriamos também a cara-metade do outro, certo? Bom, então se assim fosse não havia o arrefecimento da chama, ou esta nunca se tornaria num incêndio perigoso e mortal...

 

Ok na volta enganámo-nos, temos esse direito... apaixonámo-nos por aquela pessoa que pensámos que fosse a nossa cara-metade, but we were wrong... damos a mão à palmatória, auto flagelamo-nos, mea culpa mea culpa... e partimos para outra, mais uma vez vem a paixão, a ilusão que é um sentimento partilhado, a admiração, aquela sensação de 'é desta' para pouco tempo depois há um gesto, uma frase, um olhar que nos confirma o inevitável: afinal não....

 

Quando no lugar do entusiasmo escaldante, a paixão afrouxa e arrefece para níveis glaciares, irrompe-nos um sentimento de desinteresse e indiferença quanto ao objecto, o que era antes a nossa cara-metade, passa a ser um estorvo, um empecilho que nos perturba, porque afinal era suposto ser a nossa cara-metade... e não é porquê???? Razões várias surgem (raramente são as verdadeiras razões), tendencialmente as pessoas associam a morte da paixão ao abominável comportamento do outro: o gajo é um egoísta, só faz o que quer, não me liga nenhuma etc etc... mas o que alimentou a paixão não foi o comportamento do gajo, foi sim a ilusão criada para preencher o desejo individual da pessoa apaixonada... Quando as razões para o fim da paixão são passadas para o outro, desresponsabilizamo-nos e nem sequer nos questionamos: a culpa é do gajo (ponto). Arrumamos o assunto.

Na minha opinião o sentimento de paixão, é um sentimento completamente individual. Só tem a ver connosco, com mais ninguém. É o desejo que temos de encontrar a nossa cara-metade... Lamento mas vou ter que vos dar a notícia: não existe a cara-metade. Peço desculpa para os mais românticos, que terão mais dificuldade em gerir esta cruel noticia. Mas quanto mais cedo se aperceberem que não existe a cara-metade, melhor.... ao menos não a procuram... Existem sim pessoas, todas diferentes, e nenhuma é a metade da 'laranja' da outra.

 

Então o que fazer?? É tão bom sentirmos a emoção da paixão... a gula do desejo alimentada por um objecto fisicamente atraente? Quem não gosta de sonhar com o encontro ideal, com a nossa alma gémea? Alcançar o nirvana emocional? Saciar um desejo tórrido, fantasioso e muito prazeroso? E sobretudo que dure e dure e dure... Como ter o melhor da chama sem que esta vire incêndio?

 

Não sendo uma ciência exacta, na minha opinião, a solução ideal não existe, existe a solução possível, feita à medida de cada um de nós. Quanto a mim comecei a apreciar o quente. A minha amiga a propósito do 'quente' dizia-me que o quente é apenas o mais comodo... e talvez ela esteja correcta, é sem duvida o mais comodo, até porque um incêndio que começa por uma chama agradável, pode rapidamente se tornar num grande incomodo.

Se controlo o sentimento? Sim.... lógico que sim.... somos animais racionais com capacidade de controlo, basta querermos... é comodo. Aquece sem queimar e esfriar sem congelar, uma chama que ora aumenta ora diminui ao nosso ritmo, controladamente comoda.

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( * ) Inspirado na minha amiga C que se interessa por este tema e outros igualmente interessantes, nomeadamente:

» A migração da formiga branca em Africa;

» A catalogação de arquivos mortos por ordem alfabética;

» A restauração de monumentos históricos em miniatura executados com palitos.

 


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