Dizem que eu sou desbocada e que não tenho travões e essas cenas assim. Nunca percebi se é elogio ou, se pelo contrário, me estão a insultar, não tenho essa sensibilidade. Dizem que tenho diarreia verbal que não tenho noção do que digo e tal e coiso. Pois eu de sonsa não tenho mesmo nada. As vezes curtia mesmo fazer-me de parva mas não consigo fingir que não percebi, nem ser simpática quando não me apetece, nem fazer conversa de circunstância nem passar fretes. Já dei…. Ou tou bem ou então não tou.
No outro dia perguntei a uma amiga porque estava com cara de doente, assim digamos que encolhida, e ela respondeu em jeito de confidência ‘tou naquela altura do mês’ e eu ‘Qual?’ e ela baixa o tom de voz e sussurra-me ‘tou com o período’ a minha reacção imediata: (com um ar enjoado) ‘hãããã tu és dessas’, ela encolheu os ombros, como se implorasse o meu perdão.
Pois ela é daquelas que está sempre com dores de cabeça e eu sou daquelas desbocadas que tenho sempre de opinar e de meter o bedelho onde não sou chamada. Podia ser simpática e dizer algo querido e maternal tipo ‘ó querida, deixa lá, queres que te faça cafuné?’ ou então dizer algo solidário tipo ‘como eu sei o que sofres minha querida’ ou então dar numa de enfermeira e dizer algo do género ‘deixa lá, toma aqui uma aspirina que isso passa’…mas não. Eu sou destravada e sai-me sem pedir licença um ‘hãããã….tu és dessas’, como quem diz ‘pois a mim não me enganas’…. Fazer o quê?
Agora, analisando a coisa assim mais friamente, assim ao estilo marta black, o ser-se verbalmente atrevido tem o seu je ne sais quoi. É, por assim dizer, uma maneira de estar na vida que pode ser interessante e até pedagógica. Comigo ninguém desconfia, sou das que chamam gordas às gordas e não rechonchudinhas por simpatia… eu sou dessas. Má língua? Talvez, mas má-língua pela frente, não mando recados, por isso quando não gosto, não finjo que gosto e quando não gostam de mim e me dizem ‘na cara’ têm a minha mais profunda admiração, mas quando não gostam e fingem que gostam uiiiii tão fritos comigo…é ver-me a atiçar a capa vermelha e a chamar os touros pelos cornos, sim não deixo a coisa por menos, e a cena até pode acabar como lá prás terras dos nuestros hermanos, onde matam o touro (ou pelo, menos costumavam matar, mas a tradição já não é o que era).
Vou ali fora, ao campo pequeno, atiçar a capa a ver se aparece alguém para tourear…FUI.